Aos 21 anos, enfrentou uma grave crise de saúde. Uma infecção pulmonar exigiu a remoção de parte de um pulmão. Essa experiência o marcou profundamente, aproximando-o ainda mais de Deus. Em 1958, ingressou no noviciado da Companhia de Jesus, os jesuítas, conhecidos por sua dedicação à educação e ao serviço. Assim, Bergoglio começou sua jornada espiritual.
Formação e ordenação como jesuíta
Bergoglio estudou filosofia e teologia, formando-se com sólida base intelectual. Ele foi ordenado padre em 13 de dezembro de 1969, aos 33 anos. Durante os anos 1970, a Argentina vivia sob tensões políticas, com a ditadura militar. Como líder jesuíta, ele assumiu o cargo de provincial da ordem no país, entre 1973 e 1979. Nesse período, enfrentou críticas por sua postura durante o regime. Alguns o acusaram de não ter protegido padres perseguidos, mas ele sempre defendeu que agiu para salvar vidas discretamente.
Após sua gestão como provincial, Bergoglio dedicou-se ao ensino e à formação de novos jesuítas. Ele também estudou na Alemanha, aprofundando sua teologia. Sua humildade e proximidade com os pobres começaram a se destacar. Em 1992, foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires, iniciando uma ascensão na hierarquia da Igreja.
Ascensão na Igreja e arcebispo de Buenos Aires
Em 1998, Bergoglio tornou-se arcebispo de Buenos Aires, uma das dioceses mais importantes da América Latina. Seu estilo pastoral chamou atenção: ele rejeitava luxos, morava em um apartamento simples e usava transporte público. Visitava regularmente favelas, onde celebrava missas e conversava com os moradores. Essa proximidade com os pobres moldou sua visão de Igreja, focada na justiça social e na misericórdia.
Em 2001, o Papa João Paulo II o nomeou cardeal. Bergoglio ganhou projeção internacional, participando de eventos no Vaticano. No conclave de 2005, após a morte de João Paulo II, ele foi considerado um dos favoritos para o papado. Contudo, Joseph Ratzinger foi eleito, tornando-se Bento XVI. Bergoglio voltou a Buenos Aires, continuando seu trabalho pastoral sem ambições aparentes.
Eleição como Papa Francisco
Em 2013, Bento XVI renunciou, um evento raro na história da Igreja. No conclave seguinte, em 13 de março de 2013, Bergoglio foi eleito papa aos 76 anos. Ele escolheu o nome Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo de simplicidade e amor pelos pobres. Foi o primeiro papa latino-americano, o primeiro jesuíta e o primeiro não europeu em mais de mil anos.
Desde o início, Francisco surpreendeu o mundo. Ele recusou morar no luxuoso Palácio Apostólico, optando pela Casa Santa Marta, uma residência modesta. Durante sua primeira aparição na varanda de São Pedro, pediu que o povo o abençoasse antes de abençoá-lo. Esse gesto simbolizou sua visão de uma Igreja mais próxima dos fiéis.
Um papado de reformas e desafios
O papado de Francisco foi marcado por reformas e posições progressistas. Ele defendeu a acolhida a refugiados, criticando políticas anti-imigração. Em 2015, publicou a encíclica *Laudato Si’*, um marco na luta contra as mudanças climáticas, pedindo cuidado com a “casa comum”. Também abordou questões sociais, como a desigualdade econômica, condenando o capitalismo desenfreado.
Francisco promoveu maior inclusão na Igreja. Ele foi o primeiro papa a lavar os pés de mulheres e muçulmanos durante a Quinta-feira Santa. Suas palavras sobre a comunidade LGBTQ+ foram históricas: “Quem sou eu para julgar?”, disse ele em 2013, sinalizando abertura. No entanto, enfrentou resistência de setores conservadores, que o acusavam de desrespeitar tradições.
Outro desafio foi o escândalo de abusos sexuais na Igreja. Francisco criou uma comissão para proteger menores e implementou novas normas. Em 2019, realizou um encontro global com bispos para discutir o tema. Apesar disso, críticos alegaram que suas ações foram insuficientes para enfrentar a crise.
Diálogo inter-religioso e busca pela paz
Francisco também se destacou no diálogo inter-religioso. Em 2019, assinou um documento histórico com o grande imã de Al-Azhar, no Egito, promovendo a fraternidade entre cristãos e muçulmanos. Ele visitou regiões de conflito, como o Iraque em 2021, onde se encontrou com o aiatolá Ali al-Sistani, um gesto inédito. Suas viagens apostólicas, como à África e à Ásia, levaram mensagens de paz e esperança.
Durante a pandemia de Covid-19, em 2020, ele rezou sozinho na Praça de São Pedro, uma imagem que marcou o mundo. Francisco pediu solidariedade global e criticou a desigualdade no acesso a vacinas. Sua liderança espiritual foi um farol para milhões durante a crise.
Últimos anos e problemas de saúde
Nos últimos anos, a saúde de Francisco tornou-se uma preocupação. Ele enfrentava dificuldades de locomoção, usando cadeira de rodas em eventos públicos. Em 2023, foi internado por problemas respiratórios, agravados pela remoção de parte do pulmão na juventude. Em fevereiro de 2025, uma bronquite evoluiu para pneumonia bilateral, exigindo longa internação. Apesar disso, ele manteve sua agenda até o fim.
Sua última aparição pública foi em 20 de abril de 2025, na Páscoa. Debilitado, deu a bênção *Urbi et Orbi* da Basílica de São Pedro. No dia seguinte, 21 de abril, faleceu na Casa Santa Marta, aos 88 anos. O Vaticano anunciou sua morte às 7h35, iniciando um período de luto.
Legado e impacto global
O Papa Francisco deixou um legado de humildade, inclusão e justiça social. Ele transformou a imagem da Igreja, tornando-a mais acessível e humana. Suas encíclicas, como *Laudato Si’* e *Fratelli Tutti* (2020), sobre a fraternidade universal, continuam a inspirar ações globais. Líderes mundiais, como o presidente dos EUA e o secretário-geral da ONU, expressaram condolências, destacando sua influência.
No Brasil, onde o catolicismo é forte, sua morte coincidiu com o feriado de Tiradentes. Missas em sua homenagem estão sendo realizadas em todo o país. Em Roma, o funeral será simples, conforme seu desejo, e ele será sepultado em Santa Maria Maior. O conclave para eleger seu sucessor deve começar em breve.
Francisco foi um papa que desafiou convenções e aproximou a Igreja do povo. Sua mensagem de amor, cuidado com os vulneráveis e respeito pelo planeta ecoará por gerações.